sábado, 26 de novembro de 2011

A Esfinge

Ontem, um amigo me ofereceu uma interessante versão da História Imaginária do Grande Conflito.

Rodas e Alckmin, de comum acordo, teriam ordenado ao chefe da PM que enviasse soldados ao pátio História (por um triz não escrevo “Pátio da História”) para prender usuários de maconha escolhidos ao acaso. Acintosamente, numa clara provocação aos estudantes. Haveria, é óbvio, a reação que houve. O impasse seria criado, a Reitoria, invadida, a tropa de choque, chamada, e a mídia, fiel parceira, faria o restante do trabalhinho sujo. Os estudantes apareceriam como bandidos, encapuzados, enquanto Rodas e Alckmin posariam de mocinhos para os fotógrafos. Um plano perfeito, que infelizmente estaria dando certo


   A narrativa da Origem  agora, do outro lado.

     Partidos extremistas mancomunados teriam enviado dois agentes para fumar maconha nas fuças da polícia. Acintosamente, numa clara provocação. Haveria, é óbvio, a reação que houve. O impasse seria criado, a Reitoria, invadida, a tropa de choque, chamada, e uma greve de final de ano decidida a toque de caixa nas assembléias de praxe. O objetivo? Adiar as eleições para o DCE, diante da perspectiva de vitória de uma chapa de direita. Um plano perfeito, que infelizmente estaria dando certo.

     Harmoniosa especularidade.

     No nível dos fatos, verdades mixas. Fiapos fatuais. É óbvio que Rodas e Alckmin capitalizaram os incidentes posando de heróis. É óbvio que a esquerda capitalizou o episódio adiando as eleições para o DCE. Neste caso, porém, as verdades são menos interessantes que as mentiras. Reparem como o Inimigo é visto, dos dois lados, como uma espécie de “senhor de todos os destinos”, capaz de manipular a História a seu talante. Cada uma das partes se vê como personagem de um enredo um pouco mágico, urdido alhures, nas altas esferas (ou fundos subterrâneos) do Grande Mal.

     Esse embate de mitologias parece indicar que o nó da questão não está dado no nível dos fatos. Há uma guerra de símbolos em curso. Uma guerra de valores.

     O Reitor é um símbolo. A PM é um símbolo. Até mesmo a Aula é um símbolo.

     Símbolos de quê?

10 comentários:

  1. Ao ler seu último post, imediatamente me veio memória o seguinte trecho:

    "Whenever a bad event has occurred, rumors and speculation are inevitable. Most people are not able to know, on the basis of personal or direct knowledge, why an airplane crashed, or why a leader was assassinated, or why a terrorist attack succeeded. In the aftermath of such an event, numerous speculations will be offered, and some of them will likely point to some kind of conspiracy. To some people, those speculations will seem plausible, perhaps because they provide a suitable outlet for outrage and blame, perhaps because the speculation fits well with other deeply rooted beliefs that they hold. Terrible events produce outrage, and when people are outraged, they are all the more likely to attribute those events to intentional action." (SUNSTEIN, Cass R; VERMEULE, Adrian - Conspiracy Theories, University of Chicago Law School Public Law & Legal Theory Research Paper Series, Paper No. 199 , pp.10)

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Símbolos são sinais de algo encoberto, a se descobrir. As possibilidades do que pode vir a ser descoberto podem ser entendidas a partir (simbolicamente!!) de um gráfico (que não deixa de ser um desenho, um sinal) gradual e contínuo. Na verdade, não importa se é gradual ou contínuo, o que importa é perceber que se trata de incontáveis interpretações de sinais que se pode fazer. Quem articula as possibilidades e junta o quebra cabeça dos símbolos somos nós, Der Mensch: nós damos sentido àquilo que escolhemos como símbolos daquilo que escolhemos contar. Qualquer coisa pode ser marca do caminho, desde que queiramos elegê-la como uma marca (símbolo). A pergunta, a partir daí, é para que queremos que a Aula, o Reitor, a PM sejam um símbolo? Quer dizer, qual o sentido que queremos dar aos fatos? Por qual caminho queremos caminhar? E, com essa pergunta, no mínimo já desconstruímos a eterna dualidade de pensamento esfíngico, espetacularidade harmoniosamente simétrica.

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  4. Marco Antônio,

    Existe, sem dúvida esse elemento de "paranóia" nos dois raciocínios. Mas não é também surpreendente que os dois lados CONSTRUAM uma narrativa mais ou menos fictícia para, então, se posicionar no interior dela? É como se ambos os lados quisessem se inserir no interior de uma MITOLOGIA.
    Abraço.

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  5. Philipson,

    Nada contra os símbolos. Mas precisamos ter um mínimo de exterioridade em relação a eles, ou eles deixam de ser símbolos e começam a ficar excessivamente semelhantes a alucinações coletivas.
    Há também um problema de ELEIÇÃO de símbolos envolvido aqui, que tratarei mais detidamente em três posts diferentes ao longo da semana.
    Abraço, e volte sempre.

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  6. João Vergílio, obrigado pela resposta.
    Foi exatamente ao problema da Eleição de símbolos, por você em seu comentário citado, que eu tentei me referir em meu comentário. Basicamente quis dizer: a questão 'símbolos de quê?' leva-nos à questão 'para que símbolos?' que, por sua vez, está intrinsecamente relacionada a uma decisão ou 'eleição'.

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  7. Eu entendi, Philipson. Acho importante abordarmos essa questão das "mitologias" com que as partes acabam se identificando. Quando isso é trazido à tona, o espaço da mistificação diminui drasticamente.
    Abraço.

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  8. A aula deveria ser um símbolo de maior consenso.

    Ótimo texto, professor!

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  9. E, principalmente, Pedro, não deveria HUMILHAR a aula convencional. Minha pergunta é simples:

    Por que rir da universidade?

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  10. João Vergílio, obrigado pela resposta. Concordo com o seu comentário, porém não posso deixar de fazer um adendo.
    É verdade que o espaço da mistificação diminui drasticamente quando tomamos consciência da mistificação, contudo, talvez isso não tenha ficado claro em meus dois comentários anteriores, acredito que qualquer que seja a nossa eleição, estaremos, sempre que realizarmos tal ação, atuando de modo a 'mistificar'. Se ambos atos são mistificações, é preciso, contudo, perceber a diferença primordial entre eles.

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