quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Da série "A Imaginação no Poder"

Um baile de iê-iê-iê no espaço dos estudantes. A caráter. Em homenagem aos atuais ocupantes.



13 comentários:

  1. "Eu sou terrível" é de 1967.

    4 anos antes, em 1963, uma obscura autora chamada Sonia Seganfredo publicava um livrinho intitulado "UNE: Instrumento de Subversão". Eis o que ela diz sobre assembleias:
    "ASSALTO NAS ASSEMBLÉIAS

    Nas assembléias universitárias os elementos comunistas sempre estão presentes e conseguem tomar conta dos trabalhos devido à persistência e “enrolação” que adotam. Acumulam a mesa diretora com propostas e contrapropostas que retardam a votação. Esta só é feita quando o “contador” — elemento da UNE, União Estadual ou da própria Faculdade, que sabe qual é o seu pessoal — após ter contado os presentes dá um sinal à mesa.

    Os democratas na hora da votação não estão mais na assembléia, devido ao adiantado da hora, principalmente em se tratando de moças. Assim uma Faculdade com 1.200 alunos tem, em sua assembléia, inicialmente, cerca de 400 elementos. Com o passar do tempo sobram uns 300, dos quais, aproximadamente uns 200 votam com a UNE, e muitos destes por ingenuidade. Duzentos alunos, portanto, são tidos como maioria, numa Faculdade de 1.200 alunos, e é preciso que se diga que os comunistas não faltam, sempre estão presentes, mesmo “carregados em maca”.

    A situação, embora exposta rapidamente, mostra que uma minoria de agitadores consegue fazer movimentos fantásticos em nome de todos os estudantes brasileiros. Isso é uma farsa e daí a necessidade que têm os estudantes democratas de se organizar e de agirem. Para tal é necessário que conheçam a filosofia marxista assim como as várias doutrinas sociais. É necessário que tenham confiança naquilo que fazem sem temer as perseguições morais daqueles que não têm autoridade para fazê-las. A posição da democracia, agora, deve ser a ofensiva."

    Não só os estudantes estão reencenando roteiros antigos, afinal.

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  2. Anônimo(a) 01:50

    Os estudantes não são os únicos, nem poderiam ser. A descrição dos métodos é perfeita, e vale até hoje, pois eles mudaram muito pouco.

    É preciso, aqui, não confundir duas coisas muito diferentes.

    Uma coisa é aceitar ou não a crítica ao MÉTODO de votação característico das assembléias - uma fraude descarada, por tudo que aleguei nos outros posts, mas a favor do qual alguém talvez possua argumentos sólidos, e se disponha a apresentá-los para exame. Só posso aguardar. A alternativa que proponho é o voto em urna eletrônica, após uma semana de discussões exaustivas (presenciais, virtuais, de todo tipo). A pergunta que deixo é também tão velha quanto a música: por que não?

    Outra coisa muito diferente é aceitar certas CAUSAS defendidas em assembléias. Podemos perfeitamente lutar por elas, se for o caso, sem usar expedientes manipulatórios e violentos. Essa é a questão.

    As bandeiras, temos que examinar uma a uma. A reprovação ao método, no entanto, continua intocada. Salvo melhor juízo, é claro.

    Legal você ter entrado - seja lá quem for. Vamos discutir. A Universidade precisa disso.

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  3. O caso é que não existe panaceia. Qualquer tipo de votação pode e vai ser manobrada. Acho que é mais fácil manobrar uma votação impessoal, inclusive. É ver o exemplo das eleições. Ganha sempre a campanha mais cara. O problema de como encaminhar me parece o mais sério. As discussões sobre os encaminhamentos sempre tomam tempo nas assembleias. Mas elas são dinâmicas para resolver isso.

    Um exemplo. Outro dia, nas Letras, o CAELL lançou mão do seguinte estratagema para ganhar uma votação na marra: nas Letras, somamos os votos das assembleias da manhã e da noite. Uma proposta foi feita à noite mas não tinha sido feita de manhã. A mesa quis somar o quórum da manhã inteiro aos votos contrários à proposta computados à noite, alegando que por não terem discutido aquilo haveria consenso da manhã contra a proposta. Não conseguiram engambelar os presentes, tiveram que encaminhar a coisa direito. É a famosa manobra. Demorou dez minutos para nos livrarmos dela. Duvido muito de que nos livraríamos de manobras análogas (há mil e uma piruetas possíveis nesse campo) com a mesma eficiência à distância. Votações não presenciais são igualmente manipuláveis. Não existem encaminhamentos neutros. Eles devem mesmo ser disputados a tapas (metafóricos, claro!). Assembleias presenciais dão conta disso muito melhor, são mais ágeis, por piores que sejam. O que acho que falta é acúmulo de discussão anterior às assembleias. (Não nesse momento, mas em tempos normais). E nisso a internet pode ajudar muito. Bastaria divulgar a pauta de discussão 10 ou 15 dias antes da realização das assembleias para que isso acontecesse naturalmente. Um ajuste relativamente simples.

    -William (De novo!, esqueci de "assinar" ali em cima, já estive aqui antes. Fiquei devendo um argumento defendendo que a internet isola, na realidade, mais do que integra. Vou continuar devendo por um bom tempo, mas um dia sai. Acredito bem mais em conversas ao vivo, olho no olho. E não sou nenhum Lula! Sou terrivelmente tímido, também.)

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  4. "Os estudantes não são os únicos, nem poderiam ser. A descrição dos métodos é perfeita, e vale até hoje, pois eles mudaram muito pouco."

    Mas também, pera lá! Não é mera "descrição". É ideológico.

    -William

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  5. William,

    Estou de saída para minha palestra, e só posso esboçar uma resposta àquilo que você disse. Mas quero pelo menos deixar registrada uma linha argumentativa.

    Concordo que todo método tem desvantagens, mas o que existe na mecânica das assembléias não é uma simples desvantagem. É uma fraude sistemática e INTENCIONAL da vontade da maioria. Veja o que acontece hoje na USP (e em muitos outros lugares). As pessoas que vão e votam nas assembléias tomam decisões que SABIDAMENTE não seriam tomadas caso o voto de quem está ausente fosse computado. Assembléias só teriam um mínimo de legitimidade caso houvesse um quorum mínimo (estritamente respeitado) de, digamos, 70% dos alunos. É um absurdo decidir uma GREVE numa reunião que conta com 10% dos alunos matriculados, 1/3 dos quais era CONTRA essa greve. Isso tem nome, William. chama-se "fraude". Fraude pura, sem mistura, nem mesura - fraude na cara dura.

    Os problemas de encaminhamento só não surgem PORQUE as assembléias costumam ser pouquíssimo representativas. Porque só costumam reunir uns poucos gatos pingados (se comparados ao total dos estudantes). Tivessem SEMPRE a presença de mais de 70% dos estudantes, vocês não teriam nem sequer ESPAÇO FÍSICO para realizá-las, e o encaminhamento das propostas seria infernalmente difícil.

    Perguntinha incômoda. Alguém concordaria em estabelecer um quorum mínimo para as assembléias presenciais? Alguma das pessoas que frequentam assembléias aceitaria abrir mão do "direito" de continuar decidindo em nome daquilo que é chamado depreciativamente de "maioria (!!!!) silenciosa"? (A expressão "maioria silenciosa" está, se não me engano, consagrada, não é?)

    Seria facílimo encaminhar votações eletrônicas, William, se houvesse VONTADE de fazer isso - disposição de abrir mão do sagrado direito de falar em nome dos outros. A mecânica é simples:

    1. A diretoria do centro acadêmico elabora uma pauta de discussão, com uma grade inicial de pontos a serem votados.

    2. Organiza-se uma semana de discussões presenciais e virtuais simultaneamente às aulas.

    3. Ao longo dessa semana, a diretoria recolhe propostas de alteração de pauta, e faz as modificações que julgar necessárias para APROVAR a pauta de votação.

    4. Põe a pauta em votação, por dois dias seguidos, na Internet. Se a diretoria não conseguir aprovar a pauta, terá que começar as discussões de novo, e criará um impasse. (A diretoria terá, enfim, que fazer força para não "errar a mão", ou ficará desmoralizada.)

    5. Aprovada a pauta de votação, marca-se o dia da votação final e tem início mais um processo de discussão, com os pontos da pauta afixados em todo o prédio e amplamente divulgados na Internet. Novamente, reuniões presenciais (simultâneas às aulas) e discussões nos fóruns.

    6. Ao longo de dois dias seguidos, a votação virtual é feita, com quorum pré-determinado. Se menos de 70% dos estudantes votarem, nenhuma decisão QUE ENVOLVA A OUTRA PARTE (como greve) poderá ser tomada.

    Qual é o problema?

    Se quiserem fazer, fazem. Ou seja: não fazem PORQUE não querem.

    Desculpe-me pela pressa, e obrigado pela presença.

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  6. Sobre a palavra "descrição".

    O uso é ideológico, se você quiser dizer com isso que embute uma valoração. Embute, mesmo.

    Mas não é ideológico no sentido de que todas as pessoas que criticam as assembléias são porcos reacionários que em 1963 apoiariam o golpe e marchariam com Deus pela pátria e pela família e em 1970 teriam o retrato do Médici na sala de casa. Sei lá que coisas a mocinha citada apoiava. Pelo jeitão e pelo estilo, jamais jogaria no meu time.

    Agora, valorativa, a descrição é, sim. Fortemente valorativa, eu diria.

    abs

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  7. O problema continua. O protagonismo de que a diretoria do CA gozaria nesses sistema é bem maior do que hoje nas assembleias. Burocratiza. E acho que se um dia propostas como essa vingarem é isso mesmo que vai acontecer. Parece organizado. Mas resulta no fim da organização dos estudantes em torno de reivindicações. Resulta numa influência ainda maior de quem vencer as eleições das entidades. E que ninguém se iluda. São os partidos de sempre que continuarão vencendo. Fortalece a representação e praticamente acaba com a participação. Quanto ao quórum mínimo, pode ser estabelecido nas presenciais mesmo. Só seria inviável na geral. Nos cursos dá pra fazer tranquilo. Mesmo que todos os alunos compareçam.

    "Valorativo", de novo, dá a impressão de uma neutralidade que não existe. Quando ela diz que quem vota com a UNE ou é de um partido ou é ingênuo, enquanto os outros são os de fato democráticos, ela está sendo maniqueísta, até. Duvido que seja uma boa descrição das assembleias da época. (Hoje, sim, é uma descrição da UNE, fica até aquém...) Certamente é bastante injusto com as assembleias de hoje. Pelo menos as da FFLCH.

    -William

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  8. Caro Virgílio
    Mas, por exemplo o centro acadêmico é uma intituição cujas chapas são escolhas através de um voto representativo, a urna fica aberta durante alguns dias no local onde a circulação é maior na filosofia (no corredor), houve um processo de debate com semanas de antecedência, houve um processo de esclarescimento com semanas de antecedência, e mesmo assim cerca de 60 pessoas votaram este ano, no ano passado cerca de 100. Se o sistema de voto por represetação pode propiciar uma participação mais democrática, porque não há participação nesta votação que é a mais importante para expressão da posição do estudante de filosofia?

    -Euclides

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  9. William,

    Se você der uma semana para a discussão e definição da pauta de votação, como eu proponho, a diretoria será apenas uma das forças em jogo. O resto terá que ser negociado com o conjunto dos estudantes em fóruns tão livres quanto este aqui. Aliás, mais livres. Existem ambientes virtuais de discussão pré-formatados. Você deve conhecer. Além disso, haveria discussões presenciais, EXATAMENTE COMO OCORRE HOJE. Acabaria apenas o VOTO EM ASSEMBLÉIA. Mas, esse, eu acho que tem que acabar, mesmo.

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  10. Euclides,

    A representação estudantil passa mesmo por uma crise de legitimidade em todos os níveis. A começar pela UNE, né? Conosco, professores, não é diferente. Acho que é até pior.

    Abraço.

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  11. É... Essa crise de representatividade é bem sombria. Mais um dado: a Poli fez um "plebiscito" (na verdade é uma consulta) para saber as opiniões dos estudantes sobre diversos temas referentes a tudo isso que está acontecendo. Eles comemoram que "mais de 800" pessoas participaram...

    -William

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  12. William,

    O segredo para sair da crise, na minha opinião, é bem simples: uma minoria não pode pretender falar em nome de todos. Quando você quer falar em nome da maioria, a questão começa a ser - "como fraudar o processo?" E, aí, o processo se deslegitima. É só disso que se trata.

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  13. Pois é. Houve eleição para o CA na Filosofia, "apesar de estarmos em greve".

    Mas a eleição para o DCE foi adiada, "por estarmos em greve".

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