segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Mitologias. (2) A polícia.

     Os fatos são o de menos neste imbroglio todo, pois é no nível dos sonhos que a verdadeira narrativa se articula. Tendo em vista superá-las, registrarei brevemente duas considerações fatuais antagônicas, para depois passar ao antagonismo imaginário, que realmente importa.

     Pour. O campus é imenso, mal iluminado, cheio de esconderijos naturais e rotas de fuga seguras. Prato cheio para bandidos. A Guarda Universitária não tem poder dissuasório, pois não anda armada. Não tem nenhuma capacidade de ação imediata. Pode, no máximo, chamar a polícia (coisa que, convenhamos, eu ou você também poderíamos fazer). Ninguém duvida da necessidade de se iluminar melhor o campus. Duvida-se da suficiência dessa medida. Mesmo que o campus fosse tão bem iluminado quanto um estádio de futebol, continuaria imenso, cheio de esconderijos naturais e rotas seguras de fuga -  um prato cheio para bandidos.

     Contre. A PM é truculenta e mal treinada. Ao invés de resolver o problema de segurança no campus, ela cria um problema novo, conforme vimos no episódio que desencadeou esta revolta. Que critérios serão utilizados para decidir quem será submetido à humilhação de uma revista? Buscarão, entre os alunos, feições esteriotipadamente associadas àquelas que eles enfrentam em combates de rua? Quem nos garante que o policiamento ostensivo não será simplesmente  a ocasião para pequenas (e grandes) vinganças?

     Não é que eu não tenha lado neste debate fatual. Tenho. Acredito poder demolir cada uma das considerações contrárias à presença da PM no campus lembrando que todas elas serviriam igualmente bem para combater a presença da PM em qualquer outro lugar da cidade. Se a PM tem falhas (e tem), elas certamente não serão resolvidas mediante sua exclusão do campus da USP. Ou meu oponente aceita ir até o fim, e luta pela imediata extinção de todas forças de segurança, ou fica a me dever um argumento provando que o campus é um lugar "especial" em algum sentido, por algum motivo. 

     Acontece, porém, que existe uma outra PM, cuja finalidade não é propriamente combater criminosos, mas sim forjar identidades. A necessidade é visível a olho nu, boiando na superfície dos fatos. 

     O cartaz à frente da passeata na av. Paulista, por exemplo, mencionava 73 "presos políticos". Um deles, escarrapachado num banco do ônibus que conduzia os "heróis da resistência" à delegacia, posou para a foto fazendo o vê da vitória. Macaqueava o gesto de um preso da ditadura militar no momento do embarque para o exílio. Houve relatos de tortura. Uma aluna teria sido molestada sexualmente por vários soldados. Um aluno exibia um dedo machucado. Acho que vi um hematoma nas costas de alguém - posso estar enganado.

     Sem a PM, essa encenação identitária não estaria completa. É necessário, por isso, desconfiar de palavras de ordem como "Fora, PM!". Bem ouvidas, elas podem significar exatamente o contrário do que estão dizendo. "Venha, PM! Precisamos de vocês! Precisamos desse confronto! Precisamos dessa identidade!" Era fácil ouvir esse chamamento durante toda a passeata pela avenida Paulista. Era fácil perceber a frustração geral diante da passividade absurda daqueles policiais. "Bando de bundões..."

     É fácil rir dessa busca de identidade num passado que eles não viveram, mas tentam trazer de volta ao tempo por meio de rituais incompreensíveis para o cidadão comum. (Minha avó, que não bebia, pondo o vinho na mesa para atrair o espírito do falecido esposo.) Mais difícil e mais necessário, porém, é compreender a inquietação que está por trás dessas manifestações canhestras - uma inquietação que tem, a meu ver, uma dimensão perfeitamente legítima, que está latente em cada um de nós.

     Vejam o que acontece na Grécia, por exemplo. Haverá eleições formalmente livres e democráticas daqui a algumas semanas. Os dois principais partidos, no entanto, comprometeram-se previamente com a manutenção do plano de "recuperação" do país elaborado pelas principais potências da Europa. Ou seja, o principal tema da vida nacional já está decidido , independentemente do que disserem as urnas. O eleitor será chamado única e exclusivamente para escolher quem irá implementar o arrocho - quem será, enfim, o Judas de plantão no próximo Sábado de Aleluia. Vejam o que acontece em Portugal. Vejam o que acontece na Espanha. Vejam o que acontecerá na Itália, assim que os italianos perceberem que os contrastes entre o atual primeiro-ministro e Berlusconi esgotam-se no nível das boas maneiras. Vejam o que acontece nos EUA, que elegeram a mudança para conviver com a mesmidade. A democracia representativa se esgotou, colonizada pelo capital financeiro, e passa por uma gigantesca crise de legitimidade. As pessoas saem às ruas para enfrentar a polícia porque sentem que estão sozinhas. E estão, mesmo. No que depender de seus representantes, elas podem ir à breca. Não são os eleitores, afinal, que financiam campanhas eleitorais e distribuem propinas. São os bancos e as grandes empresas.

     Para quem assiste a tudo isso do Brasil, a sensação é um pouco enlouquecedora, porque o país vai bem demais, obrigado. Ninguém está tendo sua aposentadoria cortada, o nível de emprego e de salário, se não é bom, está muito melhor do que já foi e parece melhorar a cada dia. Para "piorar" as coisas, a esquerda está no poder, e não há perspectiva de que saia de lá se não for tangida por uma crise. Vai-se reclamar de quê? Junto com quem?

     É nesse contexto que surge o movimento estudantil da USP, como se fosse um ator em busca de um personagem. Na ausência de inimigos compartilhados com o resto da sociedade, fecharam-se no interior dos muros e problemas da Universidade, como se não existisse vida do outro lado do rio Pinheiros. Elegeram um inimigo imaginário (a PM, minha Virgem Santa... A PM!!!), exumaram mitos, rituais e costumes de 40 anos atrás e passaram a protagonizar espetáculos patéticos como aquela marcha pela Avenida Paulista, no horário de pico, pedindo a libertação de "presos políticos". A faxineira chegou espumando de raiva no dia seguinte. Quase uma hora em pé num ônibus parado, depois de ter, imagine o senhor, trabalhado que nem burro de carga o dia todo. "Seus alunos não têm mais o que fazer, não?"

     Para variar um pouquinho, estamos mimetizando a forma daquilo que nos chega de fora, sem nos importarmos com a inserção que isso tem em nosso contexto. É a nossa velha incapacidade de olharmos para o espelho, ao invés de ficarmos babando em cima de um cartão postal. 

     Ou essa moçada desce do sonho e troca essa revolta em miúdos, ou é melhor mesmo que acendam um baseado e fiquem curtindo sua viagem em paz.

28 comentários:

  1. Olá João!

    Eu venho tentando compreender o assunto esses dias (como aluno da filosofia, acho que é minha obrigação) e acredito que as questões dos alunos são mal avaliadas pela forma de apresentação. Não estou querendo colocar nada na fala do alunos também, mas apresentando o que seria minha visão sobre assunto.

    Na minha visão (que sei que não é compartilhada por boa parte dos alunos), o problema não é no substantivo "polícia", mas no adjetivo "militar". A estrutura da corporação tem um caráter autoritário que se assemelha a de um estado tirânico dentro de um estado, que de alguma maneira se reflete nos individuos inseridos nela (isso não é um argumento, apenas uma observação trivial - tenho familiares militares que me fazer crer nisto). Acho que o uso do militar deve ser uma exceção, não um hábito (tenho simpatia pela policia civil - devo pensar mais no assunto).

    Os alunos tem um discurso viciado, uma luta que as vezes soa (e as vezes é) quixotesca, mas acredito que os inimigos dos alunos (de alguns deles) são reais, eles só não tem nada de real para vencê-los. A atitude típica é o conformismo, a manutenção da ordem pela ordem e o mergulho numa realidade desagradável, que faz com que o sonho seja tão bom que descer dele não seja opção viável.

    Eu não sei ainda como contornar todos esses problemas (e acho que isso é moldar uma teoria do tudo-político que me parece fadada ao fracasso), mas sei que uma resposta tal qual "eles não têm mais o que fazer" é bem leviana. Eu acho que todos estamos entupidos de coisas a fazer e achamos isso normal. Como o professor bem apontou, a democracia representativa parece impossibilitar qualquer mudança estrutural, o discurso publicitário/panfletário é muito mais eficiente que o discurso racional (isso é dubitável, mas as técnicas religiosas, de palestras de corporação e de palavras de ordem de uma assembleia estudantil me fazem crer nisso), as soluções parecem não habitar nesse mundo. Acho que através da análise do discurso desses estudantes não conseguíriamos mesmo ver o que existe ali. Acho que não devemos nos atentar ao que eles dizem, mas ao que eles nos mostram.

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  2. Meu caro Thiago,

    Estou atrasado e por isso terei que ser um pouco taquigráfico, está bem?

    1. O delegado Fleury era da Polícia Civil, e não da PM. O DOPS era um órgão da Polícia Civil, não da Polícia Militar. Existe um tremendo preconceito por trás dessa visão do policial militar.

    2. A cena que narrei com minha faxineira é totalmente real. Ela está grávida. As palavras são dela. Eu não endosso, mas acho importante os alunos tomarem consciência de que essa é a reação TÍPICA que provocam quando fazem uma besteira como aquela. Ninguém pensa nas pessoas que estão em pé dentro dos ônibus?

    3. Não estou propondo o conformismo. Estou propondo a OUSADIA de encontrar caminhos novos. E o primeiro passo é arrumar a própria casa. Ninguém tem o direito de falar sobre "democracia no processo de escolha do reitor" quando mantém um sistema sabidamente manipulador de verificação da vontade coletiva.

    4. Alguém em alguma assembléia dedicou 30 segundos de reflexão ao processo de eleição da diretoria da UNE? Alguém aí já pensou ou propôs uma invasão do prédio da UNE no Rio de Janeiro? Não? Então, por favor, me responda a pergunta que está logo aí embaixo.


    Por quê?

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  3. Arrematando, com uma velha frase que estava sempre na boca de minha avó:

    "Falar dos outros é fácil..."

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  4. 1. Meu "devo pensar mais no assunto" mostra que eu não sei muito bem sobre isso. É um bom ponto para que eu observe as coisas. Eu não acho esta discussão fácil, e ainda estou caminhando (na verdade, talvez mancando) pra algum lugar.

    2.- Não sei responder a questão, ainda tenho dúvidas em respeito da passeata (sei que não concordo com a greve). Eu prefiro não ir em passeatas e assembleias cheias (tenho agorafobia apesar de tratada),e detestaria ficar preso no transito da mesma maneira. Não disse que gostei da passeata, nem o contrário. Só citei a resposta da sua faxineira pra mostrar que é essa é a reação típica, e que talvez devamos pensar nessas reações típicas (acho que é leviana, mas entendo que temos obrigações estruturais [como trabalhar para o sustento de nossas familias] que nos permitem achar isso)

    3. Nunca disse que o senhor propõe o conformismo (disse que era a reação típica, e a impessoalidade no texto é realmente impessoal - não estou falando de ninguém em específico). Concordo completamente com o professor nesse aspecto.

    4. Eu não sei porque saberia a resposta dessa pergunta. Eu realmente não sei se meu texto deu a entender que eu tenho mais dúvidas que respostas.

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  5. Thiago, meu caro.

    Entendi o seu ponto de vista. E não pense que eu também não tenho dúvidas. Para lhe dizer a verdade, começo a escrever apenas desconfiando de que existe uma saída em tal direção. E vou abrindo a picada como posso, seguindo o fio dos argumentos. Estamos todos tateando, enfim.

    Grande abraço.

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  6. Boa noite professor,

    Eu gostaria de fazer outra provocação, se permitir. Não estou tentando apontar algo diretamente sobre a argumentação, novamente apenas tento apresentar uma perspectiva que talvez pudesse criar um desconforto para sua consideração afirmativa. O professor diz:

    "Não é que eu não tenha lado neste debate fatual. Tenho. Acredito poder demolir cada uma das considerações contrárias à presença da PM no campus lembrando que todas elas serviriam igualmente bem para combater a presença da PM em qualquer outro lugar da cidade. Se a PM tem falhas (e tem), elas certamente não serão resolvidas mediante sua exclusão do campus da USP. Ou meu oponente aceita ir até o fim, e luta pela imediata extinção de todas forças de segurança, ou fica a me dever um argumento provando que o campus é um lugar "especial" em algum sentido, por algum motivo".

    Eu pergunto: é evidente que a PM não está excluída de lugar algum da nossa cidade e a USP se inclui. Concedido isso, então não há "lugar 'especial'" e a PM deve ser tratada como coisa que pertence a cidade, qualquer lugar na cidade e a USP se inclui. Mas, a USP possui uma determinação constitucional que lhe é particular, a saber, ela tem o dever (e não um direito) de ser autônoma, isto é, ela deve (e não possui um direito) de autonomamente decidir sobre questões didático-científicas, administrativas e de gestão financeira e patrimonial. Se a USP possui obrigação (um dever constitucional) de ser dessa maneira autônoma, então ela não deveria ser capaz de prescindir da PM?
    Dito assim eu não afirmaria que a PM deveria estar fora, mas que ela não precisaria estar dentro. Ou seja, com essa argumentação eu consigo escapar da necessidade de afirmar a USP um lugar especial, pois eu não digo que a PM não pode estar lá, mas afirmo ser a USP um lugar especial a partir da sua emancipação (obrigatória constitucionalmente) que a torna capaz de prescindir da função tutelar representada pela força policial militar do Estado de SP.

    Sempre agradecido pela atenção.

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  7. Rodrigo,

    A questão continua sendo a mesma: que razão haveria para alguém (seja eu, você, o reitor, o governador do estado, ou quem quer que seja) achar que a PM não deve entrar no Campus da USP? O que a USP tem que os outros lugares não têm?

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  8. Sendo mais claro. A autonomia só significa que a decisão deva ser tomada por outra pessoa, não que ela deva ter outras bases.

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  9. Professor,
    Quero uma outra polícia, que não seja militarizada, que não saia do quartel preparada para uma guerra, algumas vezes, contra a própria população. Quero uma polícia que não esteja envolvida com massacres (Carandiru), que não seja a legítima herdeira da ditadura militar (eles reivindicam essa herança em seu brasão ao fazer de sua última estrela uma homenagem à, assim chamada, revolução de 1964), quero uma polícia que não seja classista, que não torture o pobre(existem diversos casos de tortura e de grupos de extermínio comprovados) e proteja o rico.
    Quero essa polícia em todos os lugares do Brasil não apenas na USP.

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  10. Wilson,

    então a bandeira não é "Fora PM", mas "Muda PM".

    Não existe um único vício na PM que você não encontre também na Polícia Civil na mesma proporção. Ou maior.

    Fleury era militar por acaso?

    Abraço.

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  11. Professor,

    Para tentar uma resposta eu diria que atualmente a USP não possui nada que lhe justifique prescindir da função tutelar do Estado. Todavia, como tentei ressaltar, existe uma definição constitucional que exige dela um trabalho tal que estabeleça ao seu término (se é que isto ocorreria algum dia) sua emancipação, sua maioridade. Em última instância o que eu queria expor é uma incapacidade da atual gestão de verificar a todo instante a necessidade de caminhar em direção de uma Universidade que afirme sua autonomia. Mas, independente disso, dada a atual conjuntura aquilo que o senhor diz se justifica sem sombra de dúvida.

    Agradecido pela atenção.

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  12. Rodrigo,

    Essa questão da autonomia voltará várias vezes à discussão. É um tema complexo e interessante, que merece exame mais cuidadoso.

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  13. Penso que é muito relevante a questão do sofrimento por uma falta de identidade e que uma situação como esta (mas, certamente, não só esta)se oferece como um bom ensejo para se "forjar" alguma. - Embora a complexidade da situação não permita que ela seja sintetizada por essa quetão.

    Há um texto de Nietzsche que, nesse sentido, parece oferecer um modelo de diagnóstico:

    "O desejo de sofrer. – Se penso no desejo de fazer algo, que incessantemente agita e estimula milhões de jovens europeus, incapazes de suportar o tédio e a si mesmos – compreendo que neles deve existir uma ânsia de sofrer algo, a fim de retirar do sofrimento uma razão provável para agir, para a ação. A aflição é necessária! Daí o clamor dos políticos, daí as muitas “crises” falsas, inventadas, exageradas, de todas as classes possíveis, e a cega propensão a acreditar nelas. Essa juventude requer que venha de fora ou se torne visível – não a felicidade, digamos, mas a infelicidade; e sua fantasia já se ocupa antecipadamente em formar um monstro a partir dela, para que depois possa combater um monstro. [...]Não sabem o que fazer de si mesmos – e desenham, portanto, a infelicidade de outros na parede: sempre necessitam de outros! E ainda e sempre de mais outros! [...]" (Gaia Ciêcia, §56).

    O ressentimento ficou evidente no modo como a opinião pública julgou os acontecimentos da USP. Talvez seja o caso de perguntar se o modo como nós, em geral, re-agimos à indeterminação não nos leva a assumir a mesma lógica das ações (e das opiniões) ressentidas.

    Infelizmente, toda a situção foi deflagrada com o "enquadro" da polícia aos estudantes que fumavam maconha - o que não quer dizer que até então tudo corria bem. Isso desviou e empobreceu muito o debate sobre os reais problemas da universidade, mas, sobretudo, serviu como mote do discurso ressentido. Penso que a questão dos "baseados", nem com bom humor, deve ser trazida à tona, pois não é o que importa. Soa taxativo, ideologico, e, portanto, falso.

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  14. Diogo,

    Nem por um momento me passa pela cabeça reduzir a discussão aos estudantes que fumavam maconha no pátio da História. Isso fica absolutamente claro em meu texto, eu acho. A menção à maconha no final é só um arremate do texto, um recurso literário.

    Descriminalização das drogas (ao contrário da discussão sobre a PM no campus) é, na minha opinião, um problema absolutamente central para todo o Terceiro Mundo. Estamos falando de um comércio criminoso que gira 1 trilhão de dólares por ano pelo mundo, gerando um empoçamento de bilhões de dólares nos paraísos fiscais. O outro lado da moeda são os morros cariocas, ou a fronteira Norte do México. Ou seja: o Primeiro Mundo lucra com a política anti-drogas, e nós pagamos a fatura.

    Estou mencionando o problema para dizer que esse é um assunto SERÍSSIMO, que merece a atenção de todos nós. O problema com os estudantes é outra coisa. A PM tem que vir à USP (e a QUALQUER lugar) com uma missão clara a cumprir. Dar batida em estudantes definitivamente não é prioridade, né? Sinto nos ossos que aqueles soldados agiram respondendo a uma provocação. E erraram ao fazer isso. São pagos para não reagir com o fígado, mas com a cabeça. Depois, agiram com absoluto profissionalismo. Inclusive (e talvez principalmente) na reintegração de posse determinada pela Justiça.

    Abraço.

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  15. Antes que eu me esqueça: a citação de Nietzsche foi PERFEITA. No ponto.

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  16. João Virgílio,

    Por que precisamos da PM no campus?

    Até,
    Flavio Pereira

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  17. Flávio,

    Pelo mesmo motivo que precisamos da PM na Praça da Sé.

    Até.

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  18. Mestre,

    Em relação a economia brasileira, me permite fazer algumas considerações. Conforme o economista Eduardo Giannetti, o Brasil já vivenciou bons momentos no passado. O primeiro foi entre 1956 e 1961 com a euforia desenvolvimentista de JK. Crescimento do PIB de 8% ao ano. O segundo foi no chamado "milagre econômico" entre 68 e 73 com elevação anual do PIB em 10%. Acontece que este crescimento não foi transformado em uma prosperidade duradoura. Em seu artigo para a revista Exame CEO, Giannetti, expressa sua preocupação, o que faz muito sentido. Segundo ele, para evitar que a historia se repita, o Brasil tem que se preparar para o aumento de demandas. Quando um pais cresce, industrias e empresas precisam produzir mais. Para fazer isso, os empreendedores necessitam de dois tipos de capital: o físico,relativo a infra-estrutura(energia, maquinas e instalações) e principalmente, o capital humano com mentes preparadas para enfrentar um mundo globalizado e cheio de desafios.

    Não vamos esquecer que o Brasil não é uma ilha, separado do resto do mundo. Sinais de desaceleração na economia brasileira já começam a aparecer. Em termos de empregos formais, outubro de 2011, foi tão ruim quanto outubro de 2003. A tese é a seguinte: não vamos deixar o cavalo passar "encilhado" como dizemos aqui no sul. É preciso que o governo invista mais em Educação em todos os níveis e na infra-estrutura ( Escolas, Estradas, Ferrovias, Hospitais, Postos de saúde, Presídios, Portos e aeroportos ).
    Aqui, entra na minha pauta, o movimento estudantil e, necessariamente, os acontecimentos na USP.

    Penso, que os alunos que estão protagonizando este enfrentamento com as autoridades, pecam em alguns detalhes. Temas como o autoritarismo não 'colam" neste momento. Queiram ou não, vivemos na sociedade do espetáculo, aonde cada um faz o que quer. (infelizmente) Não estariam estes jovens com uma certa "carência" de autoridade. Não seria um caso para tratamento psiquiátrico coletivo?

    Bandeiras extraordinárias poderiam ser levantadas por eles, certamente com o apoio da opinião publica. Aqui vai algumas sugestões:

    a) Aplicar 10% do PIB na educação. (atualmente são apenas 4,5% );
    b) Recuperar o imposto sobre o cheque para ser aplicado exclusivamente na saúde publica;
    c) Ampliar e melhorar a qualidade do transporte público no Brasil. Seria uma maneira de depender menos do automóvel e colaborar mais com a natureza;
    d) Um movimento nacional contra a corrupção;
    e) Quem sabe uma reunião do DCE, para pensar o Brasil como um todo (holístico)e não ver somente seu "umbigo"!

    Por fim, os alunos não deveriam confundir autoridade com autoritarismo. A autoridade se faz necessária em todas as relações sociais. Na família, na escola, no mundo do trabalho e em todas as atividades relacionadas ao ser humano. Antropologicamente falando, não tem como descolar o conceito "autoridade" das demais atividades humanas.. O espaço publico e privado seriam o que sem um minimo de autoridade? Creio que temos que ter autoridade até mesmo sobre nos mesmos. Um ser humano que se deixa escravizar pelas paixões e seus vícios, não controlando seus impulsos básicos, não é digno de si mesmo. Se não tiver autoridade sobre si próprio, não estará preparado para liderar os demais. Gostaria de indicar aos caros alunos da USP, a leitura da obra Estudos sobre a Humanidade de autoria do filosofo Isaiah Berlin. Ali vocês vão encontrar algumas boas considerações sobre liberdade positiva e liberdade negativa. Vamos aos estudos?


    Ubiratan Trindade

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  19. Ubiratan Trindade,

    Vou tomar a liberdade de "plagiar" suas propostas em posts futuros. Na série "A Imaginação no Poder".

    Abração.

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  20. Professor,
    gostaria de parabenizá-lo pela iniciativa de criar esse fórum;pois possibilita aprendizado e análise dos pontos que afligem a USP e a sociedade. No entanto, por vezes, desconfio da exposição desenfreada de opiniões,creio que vivemos a “ditadura das opiniões”, temos que opinar sobre tudo; com frequência, sem a menor base de conhecimento ou sem o mínimo de reflexão,e isso pode transformar-se no perigo da banalidade.
    Tal banalidade vai ao encontro de sua crítica do quão legítimo são as assembléias,pois em minutos,preciso opinar sobre temas que revelam ser "pouco" complexos como: Segurança,Liberdade,Democracia,Administração Pública,Política Universitária. Então,parece que a banalidade dá lugar ao vazio e este à precipitação. A onda nos leva; na Universidade, pelas paixões e ideologias; no espaço público, pela descrença, pela estatística da maioria, pela pesquisa de opinião, pelo IBOPE.
    Quero utilizar o espaço para levantar dúvidas a supor conclusões, pois muitas respostas já estão prontas; mas, e as perguntas?Já foram feitas?O problema já foi identificado?Realmente existe?Faz sentido?Ou possui outra face?Que ninguém quer ver?Que pouco interessa?
    Assim, a partir de sua fala sobre a polícia no Campus, surgem questões:
    -A quem interessa que o Campus seja um “cemitério” isolado no meio da cidade?
    -Tomando sua fala:“ninguém duvida da necessidade de se iluminar melhor o Campus, duvida-se da suficiência dessa medida”.Então, também posso duvidar da suficiência da entrada da polícia como ação de segurança?
    -A quem interessa uma polícia truculenta, mal treinada e mal remunerada; que pouco presta contas sobre suas ações como ferramenta de segurança institucional e garantidora da ordem? Com essas facetas, talvez não faça sentido, duvidar dessa força de segurança em qualquer local do país?
    -Por que por anos a polícia não entrou no Campus?Por que esperar que um aluno fosse assassinado?
    Aqui só um adendo sobre a rápida decisão do convênio com a PM após o triste fato; fez-me lembrar um trecho da letra do Diário de um Detento dos Racionais MC´s no episódio Carandiru:era a brecha que o sistema queria, avisa o IML, que chegou o grande dia.
    -Liberdade e segurança podem conviver juntas? Nenhuma dessas vertentes deve dar espaço à outra?É possível acreditar em liberdade e segurança plenas?
    -Se é factível que a polícia entre no Campus, assim como no resto da cidade; por que, temos que apresentar a carteirinha para frequentá-lo em determinados horários?
    -Por que as ideologias sempre estão em primeiro plano nos debates da Universidade, e não a identificação e a solução dos problemas?
    -O Governador, chefe institucional da polícia e apesar dos aspectos jurídicos, não poderia ter separado meia dúzia de viaturas e um contingente de oficiais do Barro Branco (aqueles que até pouco prestavam FUVEST) ou dos policiais civis da ACADEPOL (que fica no portão 1), ter modificado a pintura dos veículos e o uniforme do pessoal e dar o nome de Polícia Universitária?Será que essa simbologia não serviria para abrandar os ânimos e atender as demandas dos diversos grupos?
    Como pouco sei sobre segurança, deixo as questões em aberto.
    Assim como o senhor,sou favorável a um debate sério sobre a descriminalização das drogas e da política atual de combate ao seu uso; assuntos correlatos como lavagem de dinheiro e utilização de recursos provenientes do crime para financiamento de campanhas políticas são gravíssimos; além disso, tal política pode refletir situações patéticas como: os anos de vivência no país do traficante Juan Carlos Abadia (atuando livre, comprando e vendendo bens) e dos episódios de maio de 2006,em que São Paulo parou de medo diante do crime organizado, possibilitando as mais insanas manifestações de paralisia e manipulação.
    Por fim,como tendo a crer que há um medo paranóico e esse é um forte motor de muitas de nossas ações,reproduzo no próximo post um trecho do pensador polonês Zygmunt Bauman,em seu Medo Líquido.
    Abraços e grato;
    Edi Carlos Borges
    Aluno do 1°ano de Filosofia e formado em Contabéis pela FEA-USP

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  21. Conforme mencionado no comentário anterior, deixo o trecho do Bauman para leitura.

    Forte abraço a todos.

    “ Já foi amplamente observado, por exemplo, que a opinião de que o “mundo lá fora” é perigoso e é melhor evitá-lo é mais comum entre pessoas que raramente saem à noite – se é que chegam a sair -, quando os perigos parecem mais aterrorizantes. E não há como saber se essas pessoas evitam sair de casa devido ao senso de perigo ou se têm medo dos perigos indizíveis à espreita nas ruas escuras porque, na ausência do hábito, perderam a capacidade de lidar com a presença de uma ameaça ou tendem a deixar correr solta a imaginação já aflita pelo medo, ao carecer de experiências pessoais diretas de ameaça.

    Os perigos dos quais se tem medo (e também os medos derivados que estimulam) podem ser de três tipos. Alguns ameaçam o corpo e as propriedades. Outros são de natureza mais geral, ameaçando a durabilidade da ordem social e a confiabilidade nela, da qual depende a segurança do sustento (renda, emprego) ou mesmo da sobrevivência no caso da invalidez ou velhice. Depois vêm os perigos que ameaçam o lugar da pessoa no mundo – a posição na hierarquia social, a identidade (de classe, de gênero, étnica, religiosa) e, de modo mais geral, a imunidade à degradação e à exclusão sociais. Mas numerosos estudos mostram que na consciência dos sofredores, o “medo derivado” é facilmente “desacoplado” dos perigos que o causam. As pessoas às quais ele aflige com o sentimento de insegurança e vulnerabilidade podem interpretá-lo com base em qualquer dos três tipos de perigos – independentemente das (e frequentemente em desafio às) evidências de contribuição e responsabilidade relativas a cada um deles. As reações defensivas ou agressivas resultantes, destinadas a mitigar o medo, podem assim ser dirigidas para longe dos perigos realmente responsáveis pela suspeita de insegurança.

    O Estado, por exemplo, tendo encontrado sua raison d´etre e seu direito à obediência dos cidadãos na promessa de protegê-los das ameaças à existência, porém não mais capaz de cumpri-la (particularmente a promessa da defesa contra os perigos do segundo e terceiros tipos) – nem de reafirmá-la responsavelmente em vista da rápida globalização e dos mercados crescentemente extraterritoriais -, é obrigado a mudar a ênfase da “proteção contra o medo” dos perigos à segurança social para os perigos à segurança pessoal. O Estado então “rebaixa” a luta contra os medos para o domínio da “política da vida”, dirigida e administrada individualmente, ao mesmo tempo em que adquire o suprimento de armas de combate no mercado de consumo.”

    BAUMAN, Zygmunt. Medo Líquido; tradução Carlos Alberto Medeiros – Rio de Janeiro; Jorge Zahar Editora, 2008, pags. 10 -11.

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  22. Para finalizar meus comentários iniciais e para não dizer que não falei das flores, duas situações me incomodam muito mais que a presença de uma força de segurança no Campus e garanto que não é nenhum tipo de ressentimento por ser bancário há anos:

    1) Dentro do espaço da Universidade, ter uma praça com a presença de uma série de instituições financeiras, a maioria delas privadas;

    2) A não construção da estação do metrô dentro Campus, em especial, na praça do Relógio.

    Abraços,

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  23. João,

    Os dois princípios urbanísticos que tem servido de bandeira para quem se posiciona contra a PM são, primeiro, a iluminação (que você abordou), segundo, a ocupação. A professora de Urbanismo Raquel Rolnik já abordou com muita felicidade os temas.

    As duas medidas são complementares e orbitam em torno de uma mudança fundamental da relação entre cidade e Universidade. A presença constante de pessoas, de passagem ou interessadas em "ocupar" a USP, aliada a ilumunição e uma Guarda Universitária preparada e equipada poderiam não eliminar por completo a violência nos campi, mas reduzi-la a níveis baixos e aceitáveis.

    Aceitando o seu desafio, eu diria que o campus é um lugar "especial" sim, não porque, por natureza, ele tenha algo especial, mas porque as definições e usos do espaço da Universidade não permitem que ele se integre à cidade. Já foram apresentadas propostas no sentido de realizar essa integração que seria certamente benéfica à USP, mas elas foram rejeitadas, razão pela qual o metro está lá, distante da Universidade e não no relógio do sol, onde originalmente ele deveria estar. Se em certo sentido a Universidade não é especial, ela deve ser tratada de maneira ordinária e não simplesmente recortada do espaço urbano e tratada com distinção (como o fez o reitor ao rejeitar a proposta de integração representada pelo metro, com o pretexto de afastar o perigo dessa "gente diferenciada").

    Por fim, acho que vale apontar também outro texto central que a professora Raquel escreveu durante os acontecimentos da USP e que diz bem contra o que se dirige: Truculência para todos?

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  24. Edi Borges,

    Por pouco, seu rico comentário não ficou esquecido. Dê sempre preferência aos posts lá da ponta (os dois ou três primeiros), que ficam mais visíveis.
    Você levanta uma série de pontos importantíssimos. Sobre a maioria deles, suas dúvidas também são as minhas. Mesmo assim, tentarei lhe dar a direção na qual eu encaminharia a discussão desses problemas:
    1. A Polícia certamente não é suficiente. Acho que ela é necessária, sim, dadas as características do campus e da cidade de São Paulo. Mas não basta - nisso, estamos de acordo.
    2. A PM ainda tem muitos problemas. Nem por um momento duvido disso. Mas a luta precisa ser para que ela MELHORE. Não para "expulsá-la" do campus.
    3. Tenho dúvidas se não ocorreriam assassinatos mesmo que a polícia estivesse presente há muito tempo. É preciso um CONJUNTO de coisas. Basicamente, iluminação, câmeras e... polícia.
    4. Liberdade e segurança não são antagônicos. Você anda à vontade à noite pelas calçadas do campus? Já fez isso depois das 11 da noite? Lembra-se da sensação? Era de "liberdade"? Pois é...
    5. As ideologias estão em primeiro plano porque há partidecos tacanhos e pentelhos tentando colonizar a discussão em proveito próprio. Principal arma de que eles dispõem: as assembléias. Lá, eles deitam e rolam. (P.ex.: a votação para a invasão da Reitoria.)
    6. Talvez essa maquilagem das viaturas que você sugere tivesse surtido efeito. Mas creio que o erro principal não foi esse. Polícia não tem que ficar dando batida em maconheiro. Para dizer o mínimo, isso não é prioritário. Eles têm que proteger o cidadão ameaçado, e não ficar catando ninharias. (Afora isso, sou pela descriminalização total e completa das drogas. O Estado não tem nada que me dizer o que eu posso ou não posso fumar. No limite, se eu quiser me MATAR, isso é problema meu, só meu, exclusivamente meu. Somos donos do nosso próprio corpo.)
    Abraço, e obrigado pela visita.

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  25. Leonardo,

    Concordo plenamente que a PM sozinha não resolve nada. Mas ajuda a manter a segurança, sim. A USP é um espaço gigantesco, cheio de rotas de fuga, que diminuiriam com a ocupação, mas não desapareceriam - veja o caso do bosque, por exemplo, ou dos muros dos fundos.

    Afora isso, procurei demonstrar que o grito "Fora PM" tem uma dimensão simbólica que me desagrada. Trata-se de uma falsa busca de identidade coletiva mediante a eleição de um inimigo comum. Não se chega a lugar nenhum assim.

    Você tem conversado com pessoas comuns, de fora da Universidade? Converse. As pessoas estão REVOLTADAS com os estudantes. Afora a carga de preconceitos ("maconheiro!"), a revolta tem sua razão de ser. As pessoas não compreendem por que estudantes e professores deveriam ter um tratamento diferente do restante da população. A PM tem que melhorar? Tem, sim. Para todos.

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  26. Quem quiser postar, melhor postar lá em cima. Aqui, poucas pessoas lêem. Os posts da frente têm uma frequência MUITO maior.

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  27. João Vergílio,

    Comecei lendo sua "Carta aberta aos alunos da FFLCH", a qual concordo com quase a totalidade dos pontos abordados.

    Um comentário apenas em uma de suas afirmações acima:

    "(Afora isso, sou pela descriminalização total e completa das drogas. O Estado não tem nada que me dizer o que eu posso ou não posso fumar. No limite, se eu quiser me MATAR, isso é problema meu, só meu, exclusivamente meu. Somos donos do nosso próprio corpo.)"

    O problema é que o Estado (digo contribuintes) paga/pagará pelo hospital, remédios e tratamentos do jovem viciado, do jovem que ficou paralítico porque não usou o cinto de segurança, etc.

    As besterias que Beltrano faz, afetam direta e indiretamente o Ciclano que compartilha a mesma sociedade. Creio que existe um preço para se viver em sociedade.

    Não quero dizer com isso que sou contra a legalização das drogas, muito pelo contrário.

    Um abraço,
    Alexandre.

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  28. Oi, Alexandre

    Acho o argumento dos custos indiretos da dependência química (que, de fato, recaem sobre todos) ruim. Veja o que acha:

    (1) Como questão de fato, os custos da política de combate às drogas são muito maiores.
    (2) Se fõssemos levar o argumento até o limite, deveríamos proibir até o torresminho, em vista dos custos das doenças cardíacas que ele acarreta.
    (3) Mesmo que os custos fossem bem altos, eles valeriam a pena. Do dia para a noite, sem gastar um único tostão, você consegue exatamente o mesmo efeito que se está tentando conseguir com as UPPs em alguns morros cariocas.
    Abraço

    JV

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