segunda-feira, 28 de novembro de 2011

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Por que a política não pode se ACRESCENTAR às aulas? Porque tem que tomar o lugar delas? Que sentido tem esse ritual de anular o espaço acadêmico para que o espaço político surja em seu lugar? Por que essa simbologia é tão forte para todos nós?

No post de amanhã, vamos pensar juntos a respeito dessas questões.

4 comentários:

  1. Boa tarde professor,

    A questão é pertinente e eu apenas gostaria de indicar uma perspectiva que poderia enriquecer a visão sobre a conjuntura. Para tanto eu cito:

    "A aprendizagem volta-se inevitavelmente para o passado, não importa o quanto a vida seja transcorrida no presente". (ARENDT, A crise na educação)

    "A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum". (Ibid.)

    Não advogo exatamente a posição de Arendt, mas me inspiro nela para questionar se poderíamos, com efeito, realizar um acréscimo entre coisas que possuem certa distinção de natureza, quer dizer, como a ação política de inovação poderia ter seu acontecimento no local próprio da ação educadora de conservação?
    É evidente que o local material não é o problema. Nossas salas de aula (as lousas, as cadeiras, as janelas e o concreto) não impedem elas mesmas do ato político, justamente o contrário. Sendo assim, o problema seria a própria aula, o próprio professor.
    Portanto, não seria propriamente o ato acadêmico, pela perspectiva apresentada, o respeito pela tradição que fundou o tipo de manifestação que os alunos utilizam? E, também, valeria a pena (não que o senhor tenha feito isso, tenho plena consciência da sua participação produtiva com suas reflexões) expulsá-los desse "mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e... arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista"? Na última instância, não seria necessário que o espaço conservador (no sentido de resguardar a tradição) concedesse permissão à vontade de inovar que possui um ato político?

    Agradeço a sua atenção

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  2. Rodrigo,

    Obrigado por essa linda reflexão.

    Nem a política pode ser completamente inovadora (a não ser quando é ruptura completa, e deixa por isso mesmo de ser política), nem a educação pode ser completamente conservadora (no mínimo, ela envolve a tradução criativa e transformadora da palavra de quem ensina nos ouvidos de quem aprende). Por via de regra, ocorre justamente o contrário. A política TENDE a ser conservadora, pois envolve uma acomodação negociada com uma ordem dada de antemão. (Fernando Henrique e Lula conhecem o fenômeno de perto...) A educação, por outro lado, tende a ser mais livre para ousar, para buscar possibilidades de mudança.

    O que está acontecendo aqui na USP nestes últimos tempos é uma inversão completa dessa ordem de coisas. A política sindical dos professores e a política estudantil trancaram-se num exercício escancaradamente regressivo. Nem mesmo espertezas assembleístas, que ACABARAM com a credibilidade do movimento estudantil durante mais de quinze anos, foram deixadas para trás. Vocês parece que decidiram exumar todos os cadáveres, um a um. Vocês reclamam da eleição direta para reitor, Rodrigo, e eu também reclamo (com as ressalvas que fiz rapidamente num post anterior, e com outras, mais específicas, que farei num futuro). Mas vou lhe dizer uma coisa. Perto das eleições para a UNE, as eleições para reitor são um verdadeiro banho de democracia. Perto de votações por mãos levantadas, em assembléias como a da História, na qual se decidiu a invasão da Reitoria, as "eleições" para Reitor até que se tornam palatáveis. Recuperem a história destes últimos vinte anos. Que novidade vocês estão introduzindo? "Fora PM"?
    Quanto ao local, Rodrigo, eu posso lhe dizer uma coisa. Cederia com PRAZER, com ADMIRAÇÃO, com todo o meu apoio parte do espaço da minha aula para que os alunos fizessem as suas reuniões e discutissem os seus problemas. Mas vocês vêm com essa mitologia da GREVE, do piquete... Minha Nossa.. O que é isso? É isso que você chama de "coisa nova e imprevista"? Nova certamente não é. E só é imprevista no sentido em que um Gordini passando pela rua também é.

    Volte sempre. Um prazer conversar com você. Cheers.

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  3. Professor,

    Não me entenda mal, como eu disse não estou no comentário advogando a posição de Arendt e muito menos a favor desses nossos clichês que o senhor bem aponta na resposta concedida.
    A minha intenção era mais simples. Não era de oposição, mas sim de instigação. Pensei em algo que poderia provocá-lo, muito mais que algo que pudesse contrapô-lo. Provocá-lo apontando para uma questão sobre os princípios da ação que ocorre dentro da nossa Universidade.
    Em geral, nestes seus apontamentos sobre a ineficácia do movimento estudantil somos plenamente concordantes.

    Voltarei sempre. Cheers!

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  4. Entendi perfeitamente, Rodrigo. Só resolvi pegar a sua deixa e desenvolver um pouco.

    Abraço.

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