sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A greve como farsa. (3) Assembleísmo.



No próximo domingo, este blog entra em recesso por tempo indeterminado. Quando o criei, há duas semanas, tinha um objetivo específico em mente, que foi plenamente cumprido: dar expressão a um tipo de pensamento que normalmente não emerge nas assembléias de alunos e professores da FFLCH. Em 16 anos de docência, esta foi a primeira vez que expressei fora do âmbito mais restrito de um forum de professores minhas opiniões a respeito da Universidade e dos movimentos grevistas que emergem quase todos os anos en nossa Faculdade. Os inúmeros e-mails que me foram enviados por alunos e colegas, apoiando-me, bem como a alta quantidade de acessos diários ao blog convenceram-me de que toquei num ponto sensível do debate. Sem pretender representar nenhuma outra pessoa que não seja eu mesmo, acabei articulando um discurso no qual muitos se reconheceram. 

As pessoas que me apoiaram não o fizeram porque concordam comigo no detalhe. O problema é outro, de ordem mais geral. Existe uma revolta dentro da Universidade com relação aos métodos empregados pelo movimento estudantil em suas manifestações. Existe a percepção generalizada de que esses métodos não expressam a opinião nem refletem a postura da maioria dos estudantes. Refletem, no máximo, a postura dos estudantes que frequentam assembléias, e vêm nelas um mecanismo legítimo de tomada coletiva de decisões. Os que não as frequentam, não são, como muitas vezes se diz, "alienados", "ignorantes" ou "conformistas". Não estão (para aproveitar uma expressão que alguém utilizou neste espaço) interessados apenas em "engordar o próprio Lattes", permanecendo alheios a tudo o que diga respeito à Universidade e ao país. Essas pessoas têm opiniões, procuram se informar e discutem com frequência exatamente os mesmos problemas que são debatidos nas assembléias. Só não aceitam mais debatê-los ali, naquele tipo de espaço.

Por quê?

Basicamente porque se convenceram de que assembléias são mecanismos de manipulação ideológica criados com a finalidade específica de fabricar falsas maiorias e dar respaldo à atuação política de grupos minúsculos que, sem a possibilidade de instrumentalizar aquele espaço, não teriam nenhuma expressão dentro da Universidade. É comum que a resposta a esta inquietação venha na forma de um convite à participação. Alegam que, se alguém quiser mudar os mecanismos de decisão coletiva, deve primeiro ganhar o voto das assembléias. Isso é uma falácia. Quem está convencido de que esses mecanismos são essencialmente viciados não está disposto a legitimá-los com sua presença. Esse é o ponto. Há um mecanismo muito antigo e muito simples de verificação da vontade da maioria: a urna. Agora, com a disponibilidade de urnas eletrônicas, que podem ser acessadas da casa de cada um a qualquer hora, esse mecanismo está ainda mais simplificado e eficiente. É disso que o movimento estudantil (e também o sindicalismo dos professores) foge como o diabo foge da cruz: do voto. É isso que eles querem evitar a todo custo. É essa a mão em troca da qual eles estão dispostos a entregar todos os dedos se for necessário. Enquanto puderem manipular assembléias, essas minorias continuarão tendo força e influência. Sem elas, serão reduzidas a seu verdadeiro tamanho, e terão que convencer seus colegas mediante o uso da palavra, ao invés de agir com violência para impor a todos as decisões tomadas por alguns.

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