sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Resposta a André Paes Leme

1. Não sei de onde se pode tirar a idéia de que faço política, mas nunca falo a respeito dela. Não tenho feito outra coisa nos últimos dias a não ser FALAR sobre política. Abri um blog com a finalidade exclusiva de discutir a política universitária. É o que estou fazendo neste exato momento, aliás, apesar da enorme pilha de trabalhos para corrigir que me espera aqui ao lado. 

2. Não sei de onde se pode tirar a idéia de que pretendo ser "neutro" nos debates que ocorrem dentro da Universidade. Minhas posições são claríssimas, e estão assumidas publicamente, com minha assinatura embaixo. Qual é a questão a respeito da qual não estou me posicionando? Sou favorável a que haja uma nítida separação entre gestão administrativa e gestão acadêmica da Universidade. Para a primeira, defendo a contratação de um gestor experiente no mercado, capaz de lidar com um orçamento de 3 bilhões anuais; para a segunda, defendo a eleição direta do Conselho Universitário pelos professores (e APENAS por eles, independentemente da titulação). O Reitor deveria, a meu ver, ser simplesmente o presidente desse Conselho. Onde é que você me vê fugindo do debate? Defendo a presença da PM dentro do campus, e acho que a ação da Tropa de Choque na desocupação da Reitoria foi exemplar. Acho que o comandante da Tropa de Choque merece uma medalha pela competência com que conduziu uma operação difícil como aquela sem que ninguém se machucasse. Que clareza adicional você pretende exigir de mim? 

3. Não sei de onde você pode tirar a idéia de que defendo o direito de ir e vir abstratamente, como uma espécie de "curingão" a ser empregado em caso de apuro durante uma discussão. Releia o que escrevi. O que eu digo é outra coisa. Há uma crise de legitimidade nos mecanismos de decisão. Esse é o ponto. Oitenta pessoas acham que podem decidir por todos, e depois socar a decisão goela abaixo da Faculdade mediante o emprego de piquetes. É essa falta de legitimidade que torna a invasão de classe, o cadeiraço, o apitaço, etc. meras agressões - agressões que, aos olhos de quem não vê legitimidade nas assembléias, só poderiam ser respondidas de modo também violento. É preciso dar um basta nessa escalada de violência. É só isso que estou tentando dizer. 

4. Vamos reforçar um ponto fundamental. Legitimidade não é artigo prêt-à-porter. Nem mesmo representantes democraticamente eleitos possuem um cheque em branco conferindo legitimidade a qualquer coisa que façam em qualquer situação. A democracia confere, no máximo, uma legitimidade prima facie, que precisa ser confirmada no dia-a-dia por um exercício do poder no qual os representados sejam capazes de se reconhecer minimamente. Olhe o que acontece na Grécia - é o exemplo que temos hoje bem à mão. Não fico brandindo a Constituição contra a obstrução do "sagrado direito de ir e vir". Se morasse na Grécia, estaria certamente marchando junto com aqueles manifestantes, combatendo um Estado que perdeu completamente a legitimidade. Os manifestantes de Wall Street merecem todo o respeito de qualquer pessoa que não aceita ver a democracia colonizada pelo sistema financeiro - pode me incluir nesse rol. O que vocês têm feito não tem nada a ver com nada disso. Defendem privilégios - só isso. Defendem um tratamento diferenciado para a Universidade, e usam os mecanismos rotos dos anos 60 para triunfar sobre a maioria. Não conseguiriam ganhar no voto, e querem ganhar no braço. Chega!

5. Ninguém é contra as ocupações em função APENAS do que está dito no Código Penal. Se alguém durante o regime nazista resolvesse estourar os miolos de Hitler, estaria fazendo uma ação meritória, digna dos maiores elogios. Quem pegou em armas durante a ditadura estava apenas utilizando o único mecanismo de luta disponível para quem não queria participar do jogo de cartas marcadas imposto pelo regime militar. O Código Penal podia perfeitamente ser mandado às favas naquela situação. Mesmo num regime democrático, muitas vezes um desvio calculado da legalidade é perfeitamente justificado. Veja o que aconteceu na Federal de Rondônia, por exemplo. Eu jamais invocaria o Código Penal contra estudantes que tentam bravamente defender o patrimônio público de um assalto descarado. Bem fizeram eles! 

6. O que aconteceu na USP foi outra coisa, completamente diversa. A invasão da Reitoria não se legitimava em função do mérito da causa, nem em função do apoio obtido junto à comunidade acadêmica, ou à população em geral. Ao contrário dos estudantes de Rondônia, vistos como verdadeiros heróis pelo povo daquele estado, vocês são ODIADOS pela população de São Paulo. Vocês têm consciência disso? Olhe, eu sei que legitimidade não pode ser reduzida a uma questão de sentimentos, mas um ÓDIO tão grande quanto esse que o contribuinte de São Paulo tem por vocês não pode ser simplesmente ignorado. Conversem com as pessoas, por favor. Saiam da redoma das assembléias. Verifiquem o tipo de reação que a ação de vocês vem despertando. Noventa por cento da população ADOROU ver aqueles arruaceiros (pois é isso que eles são!) sendo levados para a cadeia. Só acharam lamentável o fato de eles não terem ficado por lá. Espero, como professor da Universidade de São Paulo e também como cidadão, que eles sejam mesmo processados e condenados na forma da lei. Entrar na Reitoria a botinadas pode ser justificável em DETERMINADAS circunstâncias - excepcionalíssimas (e bota "íssimas" nisso) - apesar de qualquer coisa que esteja escrita no Código Penal. Mas não é justificável sempre. Cada caso é um caso. Não há regras dadas de antemão e, mesmo que houvesse, a questão de sua correta aplicação continuaria em aberto. Não reclamem comigo se as coisas são complicadas desse jeito. Quando eu cheguei, o mundo já era assim.

7. Vocês podem, se quiserem, ficar chorando pelos cantos porque a polícia acabou com a farra da invasão. O Governador do Estado, posso lhes garantir, não chorou nem um pouco. Está rindo até hoje, de ás a ás, e tem razões bem objetivas para tanto. O ministro Haddad, que não é bobo, nem nada, percebeu a tremenda BURRADA que vocês tinham feito e puxou o carro. É tão difícil assim de perceber o que acontece?

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